Visita do Imperador ao ES – 1860
Cumprindo promessa feita na fala do trono de setembro de 1859, o imperador visitou o Espírito Santo no ano seguinte.(44)
Desembarcando em Vitória a vinte e seis de janeiro, no mesmo dia – depois do Te-Deum e beija-mão – percorreu alguns dos estabelecimentos públicos da Capital. Na manhã seguinte reiniciou as visitas e, segundo a reportagem do Correio da Vitória, inspecionou desde os conventos até a cadeia, sem esquecer as aulas de primeiras letras. (IX) De canoa e a cavalo – durante duas semanas – percorreu todas as colônias e principais localidades, quase sempre acompanhado de D. Teresa Cristina.(45) Aqui e ali, para reparos de um templo, como em Vitória, para aliviar as necessidades da Santa Casa da Misericórdia, deixou contribuições em dinheiro do seu famoso bolsinho.(46)
NOTAS
(44) - Tendo partido para essa excursão a primeiro de outubro, esteve na Bahia, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, de novo na Bahia e, finalmente, no Espírito Santo. – Os monarcas se fizeram acompanhar de Cândido José de Araújo Viana, camarista; Luís Pedreira do Couto Ferraz, veador; João de Almeida Pereira Filho, ministro do Império; D. Josefina da Fonseca Costa, dama da imperatriz. Viajaram no vapor Apa, comboiado por uma divisão constituída pelo Amazonas, Paraná e Belmonte, comandada pelo chefe da esquadra Joaquim Marques Lisboa – mais tarde marquês de Tamandaré (LIRA, Pedro II, I, 375).
(45) - No Espírito Santo, o imperador encontrou-se com o arquiduque Maximiliano, da Áustria, seu primo. O futuro e desditoso soberano do México estivera no Rio de Janeiro e dirigia-se para a Bahia, a bordo da corveta austríaca Elizabeth. Tocara em Vitória exclusivamente para conhecer o seu parente do Brasil, com quem viajou até Itapemirim, sempre incógnito (Jornal do Comércio, doze de fevereiro de 1860).
(46) - O Dr. Augusto de Aguiar Sales nos proporcionou um resumo das principais visitas feitas por D. Pedro II durante sua estada no Espírito Santo, no discurso pronunciado a dois de dezembro de 1943, no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, trabalho que pode ser lido no número XVI da Revista editada por aquela associação. Também o Jornal do Comércio (do Rio de Janeiro), de nove e dez de fevereiro de 1860, traz noticiário sobre a visita imperial.
IX - “No dia vinte e seis, às oito horas e meia da manhã, o som de uma girândola anunciou da Fortaleza de S. João a esta cidade que a esquadrilha imperial demandava o nosso porto. Este sinal anunciador da próxima chegada dos nossos augustos soberanos foi como uma faísca elétrica que se comunicou rapidamente por toda parte.
A cidade animou-se. O povo corria em ondas para o cais, e lugares próximos àquele em que SS. MM. deviam desembarcar.
Repicaram todos os sinos, e milhares de foguetes subiram ao ar. Estávamos em um dia de festa. Quando o Apa, onde vinham SS. MM., demandava o porto, as fortalezas de S. Francisco Xavier e S. João salvaram com vinte e um tiros. Imediatamente o sr. presidente da Província foi a bordo cumprimentar e receber as ordens de SS. MM.
Voltando, o sr. presidente disse que SS. MM. desembarcavam ao meio-dia. A esta hora todas as autoridades civis e militares, sacerdotes, tudo enfim que há de mais distinto na Província estava no Cais das Colunas esperando SS. MM.
Havia ali dois pavilhões simples, porém elegantemente preparados; em um deles estavam muitas senhoras das mais distintas famílias da Província, a fim de acompanharem S. M. a imperatriz, e no outro a câmara municipal, que pela primeira vez se apresentou trajando o uniforme que lhe compete; o arcipreste e muitos outros sacerdotes também estavam neste pavilhão.
Ao meio-dia em ponto SS. MM. desembarcaram e seguiram debaixo do pálio para um dos pavilhões, onde teve lugar o ósculo do crucifixo e a entrega das chaves da cidade pelo presidente da Câmara, que nesta ocasião dirigiu uma pequena alocução a S. M., que respondeu com a sua costumada benevolência. Finda esta cerimônia o presidente da Câmara deu vivas a SS .MM. que foram freneticamente respondidos por todos que se achavam presentes. Imediatamente seguiram SS .MM. debaixo do pálio para a capela nacional. No colégio, SS. MM. sentaram-se debaixo de um rico dossel, e daí assistiram ao TeDeum, mandado cantar pela Câmara Municipal. Orou o vigário de S. Cruz, padre Francisco Antunes de Siqueira. O discurso foi conciso, porém, brilhante e eloqüente. Agradou a todos pela sublimidade de seus pensamentos, elegância e colorido de seu estilo.
Findo o Te-Deum, SS. MM. retiraram-se com o mesmo cerimonial para palácio, de cujas janelas receberam as continências da Guarda Nacional, que tinha se formado em grande parada.
S. M. o imperador ficou tão satisfeito com o asseio e ordem que apresentou a Guarda Nacional, que mandou elogiá-la em ordem do dia. É uma grande, uma elevada honra que assaz compensa os sacrifícios e incômodos que têm sofrido os guardas nacionais. Quando serve-se a um soberano que sabe distinguir o mérito e recompensar os bons serviços, todo sacrifício é pouco, todo trabalho é suave, porque tem-se certeza de ser-se remunerado como acaba de ser a nossa Guarda Nacional.
Depois das continências SS. MM. deram beija-mão na sala do dossel, que estava rica e primorosamente preparada. Todos disputavam a honra de beijar as mãos de um soberano tão ilustrado e benfazejo, e as de S. M. a imperatriz, este tipo de todas as virtudes, este anjo adorado que há tanto tempo amávamos pela fama de suas raras qualidades.
Depois do beija-mão SS. MM. retiraram-se para os seus aposentos e pouco depois foram jantar. Tiveram a honra de ser convidados para a mesa imperial o sr. presidente da Província, o comandante da guarda de honra, capitão Tito [Lívio da Silva], e um cadete que fazia parte da mesma guarda.
À tarde, S. M. o imperador saiu com os seus semanários, ministro do Império, presidente da Província, deputado Pereira Pinto e foi no Hospital da Misericórdia, que percorreu todo, acompanhado sempre pelo provedor, que ministrou a S. M. o imperador todas as informações que se dignou exigir-lhe. S. M. saiu do Hospital satisfeito do asseio e ordem que encontrou. Daí seguiu para o Convento de S. Francisco, que visitou. Perguntando pelos livros pertencentes à biblioteca daquele convento, e dizendo-lhe alguém que tinham desaparecido, S. M. não ficou satisfeito com a resposta.
Depois de percorrer o Convento e igreja de S. Francisco, S. M. foi ao Quartel de Pedestres, onde tudo examinou, bem como o cemitério. S. M. também visitou as outras igrejas da cidade. Seriam sete horas da noite quando recolheu-se.
À noite toda cidade iluminou-se, bem como o arco do comércio que produziu um efeito magnífico. O Largo do Palácio esteve sempre cheio de povo, e as músicas tocaram até muito tarde. Sempre que S. M. o imperador chegava à janela era vitoriado com entusiásticos vivas. A Capitania do Porto e o quartel da Companhia Fixa apresentaram bonitas iluminações.
Percorremos toda cidade e não vimos uma só casa por mais humilde e pobre que fosse que não estivesse iluminada. Ontem, logo às seis horas e meia da manhã, S. M. saiu do palácio a cavalo e foi visitar a Fortaleza de S. João, dirigindo-se depois à primeira aula de instrução primária, onde demorou-se algum tempo. S. M. que tanto desvelo mostra pela instrução pública, procurou indagar do aproveitamento dos meninos, examinou alguns deles em leitura, e mandou fazer algumas operações aritméticas.
Consta que S. M. não mostrou-se satisfeito com o estado da instrução pública, e assim devia ser, pois ela entre nós está infelizmente atrasadíssima. Depois de visitar algumas repartições e a cadeia, onde S. M. ouviu todos os presos com paternal solicitude, recolheu-se a palácio às dez horas, almoçou, e saiu de novo para visitar algumas repartições que faltavam.
Não foram visitas de formalidade. Foi um exame minucioso e acurado de tudo. Assim por exemplo no quartel da Companhia Fixa, S. M. examinou os dormitórios, o rancho, a cozinha, provou a comida, indagou de tudo, e saiu satisfeito do que viu.
Alfândega, tesouraria geral, e provincial, correio, armazém de artigos bélicos, repartição do assistente do ajudante-general, repartição das terras, escola de meninas, a segunda de meninos, todas as repartições enfim foram visitadas por S. M. que tudo quer ver, e estudar.
Consta-nos que S. M. notou a decadência dos conventos, a má escolha do local para cemitério, e a excessiva despesa que se fez com ele.
Às duas horas e meia recolheu-se, e às quatro jantou, dando a honra de convidar para sua mesa, além dos seus semanários, o ministro do Império, o presidente da Província e sua senhora, o barão de Itapemirim, coronel João Nepomuceno Gomes Bittencourt, comendador Monjardim, dr. Lima e Castro, secretário do governo, chefe de policia, e os oficiais da guarda de honra.
A tarde era destinada para um passeio na nossa baía com S. M. a imperatriz, porém S. M. o imperador entreteve-se em organizar um vocabulário do dialeto dos puris, no que ocupou-se até mais de seis horas da tarde. Desta hora até as oito, S. M. recebeu diferentes comissões que o foram cumprimentar em nome das câmaras municipais de quase toda Província.
Às nove horas da noite um batalhão popular com música e archotes esteve em frente ao palácio dando vivas e tocando o Hino Nacional, percorrendo depois todas as ruas da cidade.
Era imenso o número de cidadãos de todas as classes que compunham este batalhão e era de ver a alegria o entusiasmo quase frenético com que S. M. era repetidas vezes saudado. Como na noite antecedente, toda cidade iluminou-se. Hoje SS. MM. foram ouvir missa à Penha, e por falta de tempo deixamos para o próximo número a descrição da visita de S. M. àquela maravilha da Província” (Correio da Vitória, sábado, vinte e oito de janeiro de 1860).
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, novembro/2017
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