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Vitória antiga (um mero pulo de saudade) - Humberto Del Mastro

Arabelo do Rosário - Presidente do Clube Náutico, 1962 - Fonte: FB Memória Capixaba

Como de costume, acordara cedo aquela manhã, embora fosse “ponto facultativo” para colégios e repartições municipais, decreto do senhor Prefeito, em face do falecimento de um vereador da cidade.

Tomei meu banho, sempre exagerado em limpeza, escovei os dentes e saí de meu pequeno quarto preparado para enfrentar mais um dia, após ligeiro lanche ou merenda matinal.

Morador do ‘Cais do Avião’, em Santo Antônio, observei a azáfama na região, porque moradores de Porto Novo, Cariacica, chagavam em catraias, porque era mais cômodo, para ir até o centro da cidade trabalhar. Como se fosse pouco, havia certo movimento de “carros de praça”, porque um hidroavião amerissara, trazendo passageiros do Rio de Janeiro.

Na Avenida Santo Antônio, onde pretendia apanhar o bonde, avistei a velha Domingas, que fora escrava um dia, meio recurvada, porque chegara aos cem aos, arrastando uma lasca de madeira em direção ao seu barraco. Serviria de lenha para acender seu fogão de barro. Ao longe, distingui o escritor Carlos Crepaz, jovial, que me dirigia às Obras Pavonianas, para dar prosseguimento a mais uma obra em madeira, de suas mãos de artista nato.

De volta de Caratoíra, divisei Chiquinho Del Maestro, charmoso, em seu impecável terno de linho azul claro. Dirigia-se ao Náutico Clube, onde haveria reunião de diretoria. Mais à frente, junto ao ‘posto seção’, havia novidade. Eram os diretores do Álvares Cabral, conferindo medalhas aos remadores, por mais um campeonato de remo que conquistaram.

Mais na frente, em plena Vila Rubim, observei que no mercado, Maria T. Homem discutia às gargalhadas com Maria Rasteirinha sobre assuntos banais. Mais no alto, no começo da subida do Morro do Quadro, o poeta e escritor Taneco, da Academia Espírito-santense de Letras, gesticula agitado, dirigindo-se ao povo em geral, e explicava a alguns turistas que a Vila Rubim nem sempre fora bonita assim; que no seu tempo de criança era um mero aglomerado de barracos de taipa, chamado de “Cidade de Palha”.

Saltei na praça Independência (hoje Costa Pereira). Havia alguns aglomerados: Atharé Castro, encantava a plateia com seu violino de ouro e seus trejeitos de berço. O poeta Elmo Elton, vestido como um “dândi”, bengala importada na mão direita, discutia com outros autores da cidade as novas tendências que a poesia capixaba estava tomando. Nesse momento, aos brados, justificando os malefícios que o fumo traz ao pulmão humano, o vereador Marinho acabara de amassar a carteira de cigarros de um cidadão que insistia em fumar.

Saí dali e parei em uma cafeteria da avenida Jerônimo Monteiro. Tomei um copo gelado de hidrolitol e sorvi um café coado na hora. Ao sair, quase esbarrei no doutor Adelpho Poli Monjardim, que, com sua possante voz de barítono, confabulava com o professor Kosciuszko Barbosa Leão, caminhando em direção à Livraria Âncora, na intenção de chegar a um acordo a tarde de autógrafos de seu mais recente livro publicado.

De repente, na Praça Oito, de frente para a loja 23 de Maio, dei com Otinho Barbosa, trazendo lápis e caderno na mão, na suposta pretensão de escrever poemas às lindas moças que por ali trafegavam.

Antes um pouco um encontro notável, na citada Av. Jerônimo Monteiro, em frente à Agencia dos Correios e Telégrafos: - funcionários do Banco do Brasil se aglutinavam à espera do colega Dodoca, ídolo da torcida do Vitória, para abraçá-lo, pelo “bonito” que fizera, no nordeste, atuando pela seleção capixaba de futebol.

Saí dali e fui até a sapataria Brasília, pertencente a meu primo Carlinho, que além de comerciante, executava um saxofone de fazer inveja, a que alegrava festas diversas em bairros da cidade. Lá, adquiri um par de sapatos e retornei à Praça da Independência, pela estreita rua Duque de Caxias. Apanhei o bonde e rumei para casa, pois já passara das onze horas e estava na hora do almoço.

 

Fonte: Revista da Academia Espírito-santense de Letras / 100 anos – Vol 26. (2021)
Autor: Humberto Del Mastro Da Academia Espírito-santense de Letras. Cadeira 20
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2022

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