Milagres na Igrejinha de Monte Serrat
A fama da igrejinha de Osvaldo Baiano atraía muitos curiosos, tanto durante a vida, como depois de sua morte. Todos queriam conhecer “aquele homem esquisito” ou ver a obra que deixara para a posteridade e para o orgulho da cultura aracruzense.
Em geral, as pessoas que tinham oportunidade de conhecê-lo pessoalmente mudavam logo a má impressão que tivessem a seu respeito, pois se revelava “um extraordinário espírito cristão e fraterno, dono de personalidade tão absolutamente segura de si, a ponto de tentar brincar com o Destino”.
Sua filha Adelina possui, na sala de sua residência à rua Padre João Bauer, uma tela (pintura) do rosto de Osvaldo Baiano, feita por Filogônio Peixoto (já pintou muita gente famosa da região). O retrato transmite a austeridade e a tranquilidade do personagem, mas, principalmente, sua segurança e sua auto-suficiência, além de causar a impressão de que ele se sente absolutamente em paz com si mesmo.
Os comentários sobre o exotismo do construtor da “Igrejinha do Pelado”, à medida que passavam de boca em boca e de pais para filhos, foram criando uma auréola de misticismo em torno da figura dele, a qual, após sua morte, ficou sedimentada na obra que deixava, desafiando incrédulos: a Igrejinha de Monte Serrat construída no Morro do Pelado.
Atualmente, muitas pessoas falam que receberam milagres através dela. Ela é, de fato, bastante freqüentada – como Bianor de Souza, que mora no início do acesso – Principalmente por pessoas que dize “ir lá para pagar promessas”.
Os relatos de milagres ainda são poucos. Mas dois deles se destacam pelas peculiaridades e pela possibilidade de serem “provados” por depoimentos de pessoas envolvidas neles.
Família recebe “cura milagrosa”
Os filhos de Osvaldo Baiano contam que, não faz muito tempo, apareceu na região uma família – composta pelo casal e dois filhos – que se dizia portadora de uma doença incurável, já desenganada pelos médicos. Os narradores não souberam dizer nomes ou outras referências sobre aquelas pessoas, além de que vinham do Rio de Janeiro, atraídas pela fama da “Igrejinha do Monte Serrat do Pelado”.
Aquelas pessoas pediram licença para subir até a capelinha e fizeram a promessa de que, caso conseguissem se curar ou pelo menos se aliviar, construiriam um altar no exato local onde começassem a se sentir melhor. Neste altar, depois, colocariam uma imagem da santa.
Assim disseram, assim fizeram: subiram o morro, rezando, compenetrados a cheios de fé. Quando chegaram no lance final da subida (a pedra em que está a igrejinha), “sentiram uma estranha vitalidade!”. Aí pararam e deram mais ênfase às orações, agora com características de agradecimento.
Terminaram de subir até a ermida e, quando desceram, relataram tudo que aconteceu aos familiares de Osvaldo Baiano que estavam na casa de Bianor. Dias depois, voltaram, mostrando os resultados dos exames médicos que haviam feito, acusando a inexistência de qualquer doença em seus organismos!... Subiram, novamente até o local onde “se sentiram curados” e aí fizeram um pequeno altar, colocando nele a imagem de Nossa Senhora de Monte Serrat que haviam trazido.
O pequeno pedestal ainda é visível às pessoas que, hoje, sobrem o morro do Pelado para ir à igrejinha, Mas a imagem foi retirada pelos familiares de Osvaldo Baiano, temendo as enxurradas – que ganham muita força naquele local – pudessem arrastá-la e danificá-la. Ela está dentro da igrejinha de Monte Serrat.
Criança que não andava começa a andar
A narrativa de um outro milagre é feita por Inácia Melo Moro, com relação a seu segundo filho, Erivaldo Moro Capo, quando tinha 2,5 anos de idade. Inácia conta que, quando se casou, com Pedro Paulo Moro Capo, trabalhava na roça e residia não muito longe das propriedades de Osvaldo Baiano. Conhecia de sobra, portanto, a fama de exótico do vizinho.
Como o trabalho a forçava a negligenciar, em parte, seus afazeres de mãe, as conseqüências se fizeram sentir no seu segundo filho, Erivaldo. Nas próprias palavras dela:
- Eu trabalhava na roça e o menino ficava numa esteira o tempo todo. Quase ninguém o pegava no colo ou brincava com ele. Acho que isso fez com que não desenvolvesse as articulações das pernas, Por isso, quando tinham um ano e 17 meses ainda não conseguia andar. Como não tinha médico por aqui, levamos o garoto na farmácia de seu Chico Bermudes, mas ele também não pode fazer nada para o menino andar.
Ela diz que se sentiu culpada pela situação do menino, por não ter podido dar ao filho o carinho de que ele precisava. Como ela sabia que Osvaldo Baiano havia construído uma igreja dedicada a Nossa Senhora de Monte Serrat e sabendo que o acesso a ela era um verdadeiro sacrifício e que esta santa era tida como milagreira, decidiu fazer uma promessa: se a santa ajudasse Erivaldo a andar normalmente, Inácia subiria até a Igrejinha do Pelado junto com o filho e procuraria, daquele dia em diante, se dedicar mais a todos os seus filhos.
Assim, num bonito dia do mês de junho de 1953, seguiram para a igrejinha: ela, o marido, um cunhado e Erivaldo. O garoto que não andava ia no lombo de um cavalo.
- Logo que chegamos ao pé do morro – conta ela – o garoto saltou do cavalo e saiu andando, sozinho, na direção da subida do morro, na frente de todo mundo!... Ele subiu e desceu com muita dificuldade, mas sem ajuda de ninguém!... Pulava e brincava como se não tivesse acontecido nada!...
Inácia conta ainda que a pequena romaria familiar parou para descansar na casa de Osvaldo Baiano, perto da igrejinha, e ela conheceu pessoalmente o homem que havia se tornado um mito na região. Mas confessa que não viu nele nada de extraordinário, conforme era tão comentado. “Parecia uma pessoa comum. Muito educado sim, mas mostrando falha como qualquer semelhante”, observou ela.
Fonte: Faça-se Aracruz! (Subsídios para estudos sobre o município),1997
Organizador: Maurilen de Paulo Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2011
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