Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

A trajetória dos partidos políticos capixabas até 1930

Jornal Republicano - O CACHOEIRANO -, fundado em 1877, pelos irmãos Loiola e dirigido, durante a propaganda, por Bernardo Horta e Antônio Aguirre

Devido a independência do Brasil, em 1822, e uma vez instituído o regime monárquico em nosso País, as capitanias receberam a denominação de províncias, sendo, então, criados, na capital do Império, os partidos políticos: Liberal e Conservador. No Espírito Santo, pouco antes de 1830, o Padre Inácio Bermudes, orador de grandes recursos, parlamentar e profundo advogado, organizou a seção do Partido Liberal, foi nosso representante na Câmara dos Deputados e chefiou os liberais até 1847, quando passou a direção ao coronel José Francisco de Andrade Monjardim, que, em 1866, fez a reestruturação geral da referida agremiação. Na década de 1880, o Partido Liberal teve como seu terceiro dirigente o capitão Alfeu Adolfo Monjardim (mais tarde barão), que permaneceu no posto de comando até 15 de novembro de 1889.

O Partido Conservador surgiu em 1830, por iniciativa do coronel Dionísio Álvaro Resende, que o chefiou até 1868 quando, em consequência de uma cisão, foi sua chefatura confiada ao coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas, falecido em 1889, ano em que foram dissolvidos todos os partidos, devido a revolução de 15 de novembro.

A 23 de maio de 1887, Bernardo Horta de Araújo, o coronel Eugênio Aurélio Brandão do Valle, Antônio Aguirre, Joaquim Pires de Amorim e outros, fundaram o Clube Republicano de Cachoeiro, o primeiro do Espírito Santo. Surgiram outros núcleos nos anos seguintes: o de Vitória, por inspiração de Afonso Cláudio de Freitas Rosa, Wlademiro da Silveira, João José Domingos Ramos, Henrique da Silva Coutinho, Antônio Francisco de Ataíde, Álvaro Coutinho e José Cândido de Vasconcelos; o Clube de Anchieta, por Antero Pinto de Almeida, José Horácio Costa, Antônio Rodrigues de Miranda e Horácio Gomes; o Clube de Alegre, por Manoel Joaquim Fernandes de Azevedo, Francisco de Sales Amorim e Hermogêneo Toledo; o Clube de Guarapari, por Sezenando Matos Bourguinon e coronel Alexandrino Santos Pereira; o Clube de São José do Calçado, por Germano Chaves Tiradentes e Aureliano Procópio Medina; e o Clube de Santa Isabel, por Guilherme Schwartz.

As conferências públicas foram iniciadas em Cachoeiro, a 10 de junho de 1888, por Antônio Aguirre e, em Anchieta, a 15 de agosto do mesmo ano, por Antero de Almeida. O primeiro Congresso Republicano Provincial do Espírito Santo realizou, em Cachoeiro, a 16 de setembro de 1888, presidido por Afonso Cláudio. Foram, nessa data, eleitos membros da Comissão permanente: Bernardo Horta, Diogo Pires do Amorim, Afonso Cláudio, Antonio Aguirre e Pedro Vieira da Cunha. Enquanto no norte da Província a campanha era feita por Constante Gomes Sodré e Ramiro de Barros, no sul, era conduzida por João Coelho Lisboa, tenente Antônio Borges, João Emílio Baiense, Henrique Deslandes, João Loiola, Henrique Vanderlei, Pedro Fernandes Medina, Joaquim Pinheiro da Silva, Rafael di Martinho, José Moreira Gomes, Leopoldo Rocha e João Chaves Ribeiro.

Nas eleições ocorridas a 31 de agosto de 1889, para a Câmara dos Deputados, Bernardo Horta, candidato pelo segundo Distrito, obteve enorme votação, o que levou o candidato do Partido Conservador a segundo escrutínio, não logrando Horta o diploma, devido à pressão exercida pelos liberais, então no poder. A 15 de novembro de 1889 era proclamada, no Rio de Janeiro, a República Brasileira, e extinta a única monarquia americana. Presidia o Espírito Santo, José Caetano Rodrigues Horta; o conselheiro Cristiano Otoni era o senador, o engenheiro Leopoldo Melo Cunha e o bacharel Muniz Freire eram deputados gerais.

Por decreto de 16 de novembro, o Marechal Deodoro da Fonseca, chefe do Governo Provisório, expediu a nomeação de Afonso Cláudio para governador do Espírito Santo (as províncias receberam o nome de estado), sendo empossado a 20 do mesmo mês, perante à Câmara Municipal de Vitória, recebendo adesões de todos os municípios do Estado.

O novo administrador capixaba, com apenas 29 anos de idade, escolheu para seus auxiliares antigos companheiros de campanha: Bernardo Horta e Antônio Aguirre (vice-governadores), José Cândido (secretário de Governo), Antero de Almeida (secretário de Instrução), José Horácio (chefe de Polícia), Joaquim Amorim (retornou à magistratura sendo o inaugurador da seção da Justiça Federal neste Estado), João José Domingos Ramos e Wlademiro da Silveira (independentes da capital do Estado). A 23 de maio de 1890, realizou-se, em Vitória, um congresso, presidido por Torquato da Rosa Moreira, estando presentes antigos propagandistas e muitos representantes municipalistas. Imperava a harmonia em todo o Espírito Santo, sendo aprovados os atos do Governador. E, em seguida, foi eleita a comissão para dirigir o Partido Republicano, recaindo a escolha nos cidadãos: Domingos Vicente, Augusto Calmon, Constante Sodré, Henrique Coutinho e Joaquim Pinheiro. Partiu dessa escolha a dissidência, retirando-se da antiga Comissão Permanente (criada a 16/09/1888), os republicanos Bernardo Horta, Antônio Aguirre, Diogo Amorim e Pedro Vieira, que, alegando traição aos antigos propagandistas, fundaram, dias depois, aliados ao Barão de Monjardim, Aristides Freire, Moreira Gomes, coronel Joaquim Correia Lírio, Joaquim de Andrade e Silva, José Camilo Rebelo, Florêncio Gonçalves e Raulino de Oliveira, o Partido União Republicana Espírito Santense. Estava, assim, selada a aliança de republicanos com velhos monarquistas.

Para dar apoio ao governo do Estado foi fundado, por Joaquim Pinheiro, Constante Sodré, Torquato Moreira, Henrique Coutinho, Augusto Calmon, Muniz Freire, José Horácio, Manoel Leite de Novaes Melo, Henrique Cergueira Lima, Domingos Vicente, Eugênio Pires de Amorim, Cleto Nunes, Ramiro de Barros, Wlademiro Silveira, Germano Tiradentes e José Gonçalves Ferreira, o Partido Republicano Construtor, em setembro de 1890, Afonso Cláudio, acometido de séria moléstia, agravada por desgostos políticos, renunciou ao cargo, passando o governo a Constante Sodré.

Em consequência da agitação política surgiram novos partidos. Deposto da presidência do Estado, em 1891, o Barão de Monjardim, aliado aos coronéis, Antônio Borges e Joaquim Lírio, fundaram o Partido Autonomista. Esse partido fez, no ano seguinte, fusão com o Construtor. Dissolvida a “União Republicana", em 1895, muitos de seus integrantes aderiram ao Partido Republicano Federal, fundado em 1896, por --Torquato Moreira, Domingos Vicente, Horácio Costa, coronéis Joaquim Novaes Campos e Henrique Laranja.

Candidatando-se ao governo do Estado em 1900, o coronel Ramiro de Barros Conceição fundou, com Jerônimo Monteiro, o Partido da Lavoura. Em janeiro de 1905, ocorrendo sérias divergências entre o presidente Coutinho e o senador Muniz Freire, abandonaram as fileiras do Partido Construtor os prestigiosos chefes: Cleto Nunes, Bernardo Horta, Graciano Neves, Siqueira Lima, Barão de Monjardim, Domingos Vicente, Horácio Costa, José e Argeu Monjardim, Henrique Cerqueira Lima, Constante Sodré, alguns presidentes de Câmara e doze deputados estaduais.

O presidente Coutinho foi prestigiado pela maioria do Congresso Estadual, das Câmaras Municipais e de apenas um representante federal, o deputado Torquato Moreira. Estrearam, nessa época, no Legislativo do Estado, quatro jovens e talentosos advogados: Luiz Adolfo Thiers Veloso, Narciso Araújo, José Belo de Amorim e Joaquim Guimarães, sustentáculos da Administração Coutinho, assim julgados pela imprensa situacionista.

A 16 de outubro de 1907, o Partido Construtor, em convenção, indicou Jerônimo de Souza Monteiro como candidato único ao governo do Estado, para o quatriênio de 1908 a 1912. Divergiram dessa indicação os deputados monsenhor Eurípides Pedrinha, José Gomes Pinheiro Junior e José Belo de Amorim. O monsenhor Pedrinha alegou discordar por ser Jerônimo Monteiro inelegível, em face da Constituição, por estar ausente do Estado há mais de 5 anos. Ponderou o coronel Coutinho, justificando a legalidade da candidatura, dizendo que Jerônimo Monteiro, embora residindo fora do Espírito Santo, havia desempenhado importantes missões a favor de nosso Estado. Os deputados monsenhor Pedrinha e Pinheiro Junior mantiveram suas opiniões e desligaram-se do Partido.

O deputado Belo de Amorim resolveu dar seu apoio ao candidato. Na representação federal, Jerônimo Monteiro recebeu a adesão de Torquato Moreira e repulsa de Graciano Neves. Os outros congressistas permaneceram neutros. Assumindo o governo a 23 de maio de 1908, Jerônimo começou a pacificar a política capixaba. Reunidas a 4 de abril de 1908, todas as facções oposicionistas e governistas, sob a presidência do deputado Paulo Junior de Melo, chefe do Legislativo Estadual, foi fundado o Partido Republicano Espírito-santense, havendo a fusão geral das agremiações. A paz chegava à terra capixaba, a imprensa aplaudia essa segunda vitória do presidente Jerônimo Monteiro, a quem coube a direção do novo e único partido do Espírito Santo.

Infelizmente durou pouco tempo a harmonia, no seio da política espirito-santense. Por ocasião da sucessão presidencial, em fins de 1911, devido a escolha do coronel Marcondes Alves de Souza, para o período de 1912 a 1916, houve grande cisão. Aliaram-se à oposição os deputados Torquato Moreira, Barão de MonjardIm, e Thiers Veloso, e apresentaram Getulio Santos como candidato ao governo do Estado. O coronel Marcondes foi efeito e assumiu o posto a 23 de maio de 1912, fundando, no ano seguinte, com Júlio Leite, Domingos Vicente, Nestor Gomes, Francisco Etienne Dessaune e Manoel Silvino Monjardim, o Partido Republicano Conservador Espírito-Santense, chefiado pelo general José Gomes Pinheiro Machado, então vice-presidente do Senado.

Esse partido defendia os atos praticados pela administração Marcondes para a recuperação financeira do Espírito Santo e dava  apoio a candidatura Wenceslau Braz. Em janeiro de 1914, o presidente Marcondes seguiu para Campos/RJ, a fim de visitar Pinheiro Machado, que repousava em sua fazenda, denominada Boa Vista. Ocorrendo, no ano seguinte, o lamentável assassinato do referido senador Pinheiro, os integrantes do Partido. Conservador ingressaram no Partido Republicano Espírito-Santense, que sobreviveu até a revolução de 3 de outubro de 1930.

Devido a paixão política sempre reinante em nosso Estado foi fundado, em outubro de 1913, o Partido Republicano Liberal, de feição oposicionista, sendo comissionados, para a elaboração dos seus estatutos, João Aprígio Aguirre, José Horácio Costa, Eugênio Pinto Neto e Antônio Aleixo. Em 1916, o Partido Republicano Espírito-Santense apresentou o senador Bernardino de Souza Monteiro para a presidência do Estado. As oposições indicaram o médico José Gomes Pinheiro Junior, ex-deputado federal. Houve dualidade, nascendo daí uma revolução. Bernardino Monteiro, instalou o seu governo em Vitória e Pinheiro Junior, em Colatina. Meses depois o Congresso Nacional reconheceu Bernardino, concedendo, contudo, anistia aos revoltosos.

Para o quatriênio de 1920 a 1924, foi eleito o coronel Nestor Gomes. A sua posse foi embaraçada por motivos de divergência no Legislativo Estadual, agravada pela revolta da Força Policial, provocando a intervenção federal, para só, então, Nestor Gomes ser reconhecido pelo Congresso Nacional. Dos entendimentos havidos entre o presidente Nestor Gomes, o senador Bernardino Monteiro e o deputado Pinheiro Junior, para a pacificação da política espirito-santense, observamos que o quatriênio de 1920 a 1924, iniciado com armas, terminou com flores.

Consolidada a paz política em nosso Estado, Aristeu Borges de Aguiar elegeu-se pacificamente presidente. Seu governo, iniciado em junho de 1928, sofreu as consequências da agitada política federal, culminando com sua deposição, devido a revolução de 3 de outubro de 1930. Nos 67 anos do regime monárquico tivemos apenas três agremiações partidárias, contra nove da República Velha, somando 12 partidos, nesses 108 anos, aqui enfocados. A história deduz que, no período da primeira república, bem mais curto do que o do império, as lutas políticas foram maiores.

 

Os partidos e seus jornais

 

Na década de 1880, o Partido Liberal era apoiado pelos jornais que circulavam em Vitória: "A Liga" (1860 - diversos colaboradores), e "Jornal de Vitória" (1864 - dirigido pelo engenheiro Manoel Feliciano Muniz Freire), "A Opinião Liberal" (1877 - Urbano Vasconcelos), "A Atualidade" (1878 - José Correia de Jesus), "O Horizonte" (1880 - Maximino Maia). "O Comércio" (1875 - José Joaquim Pessanha Pó- voa e Miguel Noronha Feital) e "Província do Espírito Santo" (1882-1889 - José de Melo Carvalho, Muniz Freire e Cleto Nunes Pereira).

Na então Vila de ltapemirim, dirigida por José Feliciano Horta de Araújo, Joaquim Pires de Amorim e Clímaco Barbosa de Oliveira, o semanário "Sentinela do Sul" (1867-1869), era o órgão oficioso dos Liberais. O Partido Conservador (surgido em 1830) era apoiado pelos seguintes órgãos vitorianos: "O Provinciano" (1860 - diversos redatores), "O Espírito-Santense" (1870-1888 - Basílio Daenom), "A Folha da Vitória" (1888-1890 - Aristides Freire) e, em Cachoeiro, "O Constitucional" (1885 - 1888 - de propriedade de João Vasco Cabral Filho).

Dois jornais davam cobertura aos republicanos: "O Cachoeirano", fundado em 1877, pelos irmãos Loiola e dirigido, durante a propaganda, por Bernardo Horta e Antônio Aguirre, e "A Tribuna", de Anchieta, fundada por José Horácio. O Partido União Republicana Espírito-Santense era apoiado pelos jornais "Federalista" e "Comércio do Espírito Santo", enquanto que o Partido Republicano Construtor teve, como órgão oficioso o "Estado do Espírito Santo", dirigido por Muniz Freire. Em 1895, com a adesão ao Partido Republicano Federal, fundado em 1896, o jornal "O Comércio do Espírito Santo era seu órgão oficioso.

Em 1898, por iniciativa de Bernardo Horta, Augusto Calmon, Antônio Borges e José Monjardim, surgiu o Partido Construtor Autonomista, apoiado pelo semanário "O Cachoeirano".

 

Fonte: Revista do Instituto Jones dos Santos Neves – Ano IV Nº 1, 1985
Autor: Joaquim Pires de Amorim, fiscal fazendário aposentado, Administrador e Jornalista, membro da antiga Associação Espírito-Santense de Imprensa
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2018

História do ES

Ano de 1866 – Por Basílio Daemon

Ano de 1866 – Por Basílio Daemon

Revoltam-se os escravos da Fazenda da Safra, de propriedade da viúva D. Josefa Souto, causando horrível pânico às vilas de Itapemirim e Cachoeiro 

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo