Anchieta, o descobridor do minério de ferro no Brasil
Por estranho e incomum que possa parecer, foi o apóstolo José de Anchieta, cujo nome pertence hoje à região onde se ergue parte do complexo redutor e exportador da Samarco, quem descobriu, pela primeira vez no Brasil, o minério de ferro, no Estado de São Paulo.
Imediatamente, ele escreve uma carta ao Rei de Portugal informando a descoberta, uma vez que a Coroa estava propensa a explorar não somente os minerais mais valiosos, como o ouro, mas também o ferro, especialmente para a construção de armas pesadas. As providências reais são tomadas e. naquele ano, segundo o historiador Von Eschwege, é construída ali a primeira fábrica de ferro, no Brasil ainda colônia.
As atenções, a partir daí, se concentraram na construção de outras forjas ou fabriquetas de ferro e a idéia de se buscar novas jazidas, como a que Anchieta descobriu em São Paulo, se alastrou, especialmente no Estado de Minas Gerais, polarizando-o, se não de fábrica de ferro, pelo menos de intenções assombrosas, numa época em que era dificílimo conseguir equipamento adequado para a finalidade.
Hoje, embora muitas vezes dificuldades decorrentes de mercado, uma usina redutora de minério não constitui mais novidade. De grande ou médio porte, existem dezenas, e a elas se integram, de tempo em tempo, novas unidades. No Espírito Santo, enquanto a Usina de Tubarão não for construída, a Samarco vem somar a uma produção que pode em pouco tempo chegar a 22 milhões de toneladas de pelotas de ferro, mais dois milhões de toneladas. E isso acontece hoje na terra de Anchieta, na terra de quem descobriu o minério.
O processo de exploração de minérios de ferro, por data, está descrito na seqüência:
1549 — O jesuíta José de Anchieta anuncia à Coroa de Portugal a descoberta de minério de ferro em São Paulo. Em Santo Amaro, à margem do Ribeirão Jaribatuba, é construída uma pequena usina de ferro, segundo Von Eschwege, a primeira a se instalar no Brasil.
1590 — Afonso Sardinha, no Morro de Araçoiaba, Comarca de Sorocaba, São Paulo, instala e faz funcionar a primeira forja para a fabricação de ferro.
1603 — Dom Francisco de Souza, em Ubatã, perto das terras de Sardinha, estabelece a segunda forja brasileira, com o auxílio de técnicos alemães.
1629 — Paralisam-se os dois empreendimentos brasileiros, devido às condições políticas do Brasil - colônia.
1765 — 28 de fevereiro, por carta régia, é concedido a Domingos Ferreira Pereira o privilégio de explorar ferro e construir uma usina, por dez anos.
1780 — O capitão general Rodrigo José de Menezes elabora um relatório ao Reino, propondo o estabelecimento de uma fábrica de ferro em Minas Gerais para atender as necessidades da mineração.
1785 — Por alvará da rainha dona Maria I, a Louca, é proibida a existência de fábrica de ferro no Brasil, para atender aos interesses da mineração do ouro e da agricultura.
1795 — 27 de maio, Luís Pinto de Souza, em nome do rei, declara livre o estabelecimento de fábricas de ferro e manufaturas desse gênero.
1799 — José Vieira Couto, ex-professor de Coimbra, residente no Tejuco, hoje Diamantina, volta a preconizar a necessidade do estabelecimento de grandes usinas de ferro no Brasil. — Em 12 de julho, João Manso Pereira tem a permissão para instalar uma fábrica de ferro onde julgasse conveniente, no Estado de São Paulo.
1800 — João Manso Pereira examina o local denominado de Ipanema, realizando os primeiros estudos para instalar sua fábrica.
1808 — Dom João VI chega ao Brasil, em 1° de abril, quando torna efetiva a liberdade de se instalarem fábricas de ferro no País, registrando-se um grande surto siderúrgico após.
1809 — O intendente Manuel Ferreira Bitencourt Aguiar e Sá estabelece, no Morro do Pilar, em Minas Gerais, a Real Fábrica de Ferro do Morro de Gaspar Soares.
1810 — Por carta régia, é criada a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, em São Paulo.
1811 — o Barão Wilhelm Von Eschwege, famoso geólogo alemão, inicia a construção de um forno para produzir ferro pastoso, em, Congonhas do Campo, Minas Gerais.
1812 — em 12 de dezembro, é produzida a primeira barra de ferro na fábrica Patriótica de Von Eschwege, situada em Congonhas do Campo, estimulando o aparecimento de outros fornos em Vila do Príncipe, Antônio Pereira e Cocais.
1813 — Mês de junho, inicia-se a produção da Real Fábrica de São João do Ipanema.
1814 — 18 de agosto, é realizada a primeira corrida de gusa no primeiro alto forno do Brasil na Real Fábrica de Ferro no Morro de Gaspar Soares.
1817 — João Monlevade, francês, associado a Luiz Soares Gouveia, monta um alto forno em Caeté, Minas Gerais.
1818 — 1° de novembro, com Warnhagen na direção da empresa, substituindo a Hedberg, que reconstruiu a fábrica e instalou dois altos fornos, corre o primeiro ferro gusa na Real Fábrica de São José de Ipanema.
1820 — Por falta de técnicos fecha-se o empreendimento do Morro do Pilar.
1821— A fábrica Patriótica, em conseqüência do retorno de Von Eschwege à Europa, encerra suas atividades.
1825 — O engenheiro Monlevade instalou uma forja catalã em São Miguel de Piracicaba, no Vale do Rio Doce, no local que hoje tem o seu nome e onde se localiza a usina da Companhia Belgo-Mineira.
1860 — E fechada a fábrica de Ipanema.
1865 — E reaberta a fábrica de Ipanema, durante a guerra com Paraguai.
1876 — 12 de outubro, é inaugurada a Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais, organizada pelo engenheiro francês Henry Gorceix, nos moldes da escola de Saint Etiene, na França. Esse engenheiro foi trazido ao Brasil pelo imperador dom Pedro II, dada a necessidade de formação de técnicos em mineração e metalurgia. Geralmente, o afastamento de técnicos trazia como conseqüência o fechamento das iniciativas no setor siderúrgico.
1888 — José Gerspacker, Amaro da Silveira e Carlos Vigg constroem um forno de seis toneladas/dia em Esperança, nas proximidades de Itabira do Campo, em Minas Gerais, passando este mais tarde para a Companhia de Forjas e Estaleiros.
1891 — O forno de Esperança, em conseqüência da falência da Companhia de Forjas e Estaleiros, passa para o controle do engenheiro J. Queiroz Jr., que constrói o primeiro alto forno moderno de 15 dias, com revestimento de chapas.
1892 — O mesmo grupo que construiu o forno de Esperança levanta, em Burnier, Minas Geais, um alto forno com capacidade de seis toneladas, e, a seguir, constrói outro forno com modernos aparelhos para aquecimento de ar.
1895 — Encerra definitivamente suas atividades a Real Fábrica de Ferro de Soão João de Ipanema.
1900 — O Brasil possui, nessa ocasião, os dois altos fornos de Esperança e Burnier, e aproximadamente uma centena de pequenas forjas, espalhadas pelo interior de Minas Gerais.
1910 — O governo Nilo Peçanha cria condições favoráveis à implantação de uma indústria siderurgia de porte no Brasil, projeto que ficou prejudicado, mais tarde, pelo início da primeira guerra mundial.
1911 — É concedida autorização para que a Itabira Iron-Ore Company funcione no Brasil.
1917 — É realizada a primeira produção de lingotes de aço no Brasil, num forno Siemens Martins, de 3 toneladas, nas instalações da Companhia Ferrum, no Rio de Janeiro.
1918 — É realizada a primeira corrida do forno Siemens Martins da Usina de São Caetano do Sul, da Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo.
1919 — Instalados em São Paulo, para a fábrica de aços paulistas, os dois primeiros fornos elétricos do País, de 400 a 100 KVA, com capacidade de 1000 e 500 quilos respectivamente.
— Amaro Lanare, Cristino Guimarães, Gil Guatimosin e outros instalaram em Sabará, Minas Gerais, um alto forno, constituindo a Companhia Siderúrgica Mineira.
1920 — E posto em funcionamento o alto forno da Companhia Siderúrgica Mineira em Sabará.
— E dada a autorização para contratar com a Itabira Iron-Ore Company, juntamente com a Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas, a construção e a exploração de altos fornos, fábricas de aço e trens de laminação, bem como a construção de duas linhas de ferro, construção de cais.
— O engenheiro Domingos Fleury de Rocha, professor da Escola de Minas de Ouro Preto, e mais tarde seu diretor, é enviado pelo Governo Brasileiro à Europa, para estudar a possibilidade de emprego de carvão nacional na fabricação de coque metalúrgico. Os resultados são considerados satisfatórios.
1921 — E construído um alto forno à base de carvão vegetal, em Rio Acima. A 11 de dezembro, a Companhia Siderúrgica Mineira é absorvida pela recém formada Companhia Siderúrgica Belga-Mineira.
1922 — O engenheiro Flávio Mendonça Uchoa idealiza e incorpora a Companhia - Eletro-Metalúrgica de Ribeirão Preto, que muitos consideram como a primeira usina integrada do Brasil.
1924 – É iniciada a construção de um alto forno a carvão vegetal, em Caeté Minas Gerais.
— Montado o primeiro forno de aço da Usina Siderúrgica de Sabará.
1926 — É fundada a Companhia Ferro-Brasileiro, em Caeté.
- É instalada uma laminação para perfis pequenos e arames, em Sabará.
1931 — Em agosto, é criada a Comissão Nacional de Siderurgia, junto ao Ministério da Guerra, sob a presidência de Eusébio de Oliveira.
— E fundada a S.A. Metalúrgica Santo Antônio, por Américo Renier Gianetti.
1935 — E iniciada a construção da usina de Monlevade, da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.
1936 — E feita, em São José da Lagoa, a ligação ferroviária da Estrada de Ferro Vitória a Minas, com a Estrada de Ferro Central do Brasil, pelo ramal de Santa Bárbara.
1937 — 20 de julho, inauguração do primeiro alto forno de Monlevade, iniciando-se a grande definitiva arrancada da siderurgia brasileira e de indústrias correlatas, empreendimento que se tornaria pioneiro na técnica de sintetização dos finos de minério e na produção de aço, em convertedores básicos, com injeção de oxigênio.
1938 — Aceso o segundo alto forno da Belgo-Mineira, em João Monlevade.
1939 — Decretada a caducidade do contrato da Itabira Iron.
— Início das atividades da Usina de Villares, para aços especiais, em São Paulo.
— Completa a primeira fase da usina de Monlevade, com dois altos fornos, dois de aço e dois de laminadores para perfilados, atingindo 55 mil toneladas de produtos siderúrgicos por ano.
1940 — Instituída a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional por decreto Lei n° 2.054, de 4 de março.
1941 — 9 de abril, é fundada a Companhia Siderúrgica Nacional. — Dezembro, é iniciada, a construção da Usina de Volta Redonda, da Companhia Siderúrgica Nacional, sob a orientação do engenheiro Edmundo de Macedo Soares.
1942 — Constituída a Companhia Vale do Rio Doce.
— Inaugurada a usina de Mogi das Cruzes, do Grupo Jafet, a primeira no Brasil para fabricação de tubos sem costura.
1944 — 31 de outubro, fundada a Companhia de Aços Especiais Itabira Acesita, pelos engenheiros Amintas Jacques de Moraes, Atos de Lemos Rache e Percival Farquhuar.
1946 — 12 de dezembro, é inaugurada oficialmente, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, pioneira no Brasil da Grande Siderurgia, de coqueria tipo by product, altos fornos de grande capacidade, laminados planos a quente e frio, chapas galvanizadas e folhas de flandres.
1951 — Lançada a idéia, pelo engenheiro Plínio de Queiroz, para fundação da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa).
1952 — Fundada a Companhia Siderúrgica Mannesmann, em Belo Horizonte.
1954 — Inaugurada a Mannesmann, que introduziu no Brasil os baixos fornos elétricos de redução para produção de gusa.
1956 — 26 de abril, criada a Usina Siderúrgica de Minas Gerais — Usiminas — em conseqüência de um amplo movimento da opinião pública e das classes produtoras de Minas Gerais.
1958 — 16 de agosto, é cravada a estaca inicial da usina de Intendente Câmara, da Usiminas, no distrito de Ipatinga, município de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais.
1959 — agosto, iniciada a construção dos altos fornos da Usiminas, além da coqueira.
1962 — 27 de outubro, primeira corrida de gusa na Usiminas.
1970 — Inaugurada em Volta Redonda a fábrica Presidente Costa e Silva, da Companhia Siderúrgica Nacional, para perfis soldados. — Lançado o Plano Nacional do Aço.
1973 — Criada a Siderurgia Brasileira S.A. (Siderbrás) com o objetivo de promover e gerir os interesses do País em empreendimentos siderúrgicos e atividades afins.
— Pela Resolução 25/74, do Consider, o ministro Severo Fagundes Gomes considera prioritário, para efeito de concessão de incentivos fiscais, o projeto da Companhia Siderúrgica de Tubarão.
1976 — 11 de julho, assinada no Palácio Anchieta, em Vitória, pelo presidente Ernesto Geisel, a constituição jurídica da Companhia Siderúrgica de Tubarão.
1977 — 14 de janeiro, o presidente Ernesto Geisel inaugura oficialmente a usina de Pelotização Italo-Brasileira, da Companhia Vale do Rio Doce e Italsider, em Vitória.
1977 — Hoje, o presidente Ernesto Geisel inaugura oficialmente o Complexo Samarco, destinado à exploração, ao transporte, à redução de minério de ferro, para exportação.
Fonte: Complexo Samarco – Suplemento especial de A Gazeta, 29 de setembro de 1977
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2015
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