Cinema de Aracruz - Parte II
Novos problemas causaram outra interrupção. Mas outra vez o cinema não demoraria a voltar à atividade, por volta de 1969, agora na antiga Casa de Pedra da Venâncio Flores (hoje demolida, para dar lugar ao estacionamento do Supermercado Aracruz), alugada de Ângelo Marcos Trazzi. O novo nome, “Cine Mara” homenageava Liamara, primeira (então única) filha de Jovino. Ele passou pelo menos dois anos fazendo reformas no local.
A fase da Casa de Pedra foi a mais áurea e popular, além de mais folclórica, na história dos cinemas de Jovino. Ali se exibiram famosos exemplares da arte cinematográfica, embora anos depois do lançamento.
Curiosamente, pode-se dizer que exatamente isto é que foi seu maior mérito, ao permitir a seus freqüentadores a aquisição de uma ampla formação sobre a própria história do Cinema. Afinal, puderam conhecer e avaliar, ao vivo, exemplares que marcaram época quando muitos deste aracruzenses nem tinham ainda nascido ou usavam fraldas!
Assim, figuraram entre os hits do Cine Mara: O Gordo e o Magro, Tarzan, seriados, filmes de terror, superproduções sobre episódios da História Universal (especialmente os bíblicos), musicais de Hollywood, eventuais exemplares do Neo-Realismo italiano (aliás, pouco aceitos pelo público), Chanchadas Brasileiras e faroestes, muitos faroestes.
Modernidade
Ao terminar as reformas da Casa de Pedra, em 1971, Jovino adquiriu o terreno na esquina das Ruas Aristides Guaraná e Quintino Loureiro, próxima a sua residência, e começou a construir um prédio próprio para o cinema, Seu projeto previa um majestoso edifício, com um cinema de grande porte, À altura da cidade, que começava a se modernizar com as notícias da chegada da Aracruz Celulose.
Não foram poucas as dificuldades, principalmente financeiras, mas a construção ficou pronta em cerca de cinco anos. E a estréia do “Cine Marliani” (combinação dos nomes de Liamara e Liliani, filhas de Jovino) aconteceu em 28/2/76, Sábado de Carnaval, com a exibição de um sucesso de então (“Kung-Fu, os Dois Dragões de Hong-Kong”, produção chinesa), numa demonstração de que a programação procuraria ser a mais moderna possível.
Num edifício de dois pavimentos construído sob a mais moderna técnica de alvenaria, o cinema tinha 360 lugares, em cadeiras muito confortáveis, com piso inclinado e até um pequeno palco (chegou a ser usado para espetáculos de mágica e shows) em frente à imensa tela, que tomava toda a largura e toda a altura da parede dos fundos.
Em torno da grande sala de projeção havia algumas outras, que podiam ser usadas por fumantes, um descanso ou um bate-papo, e todo o conjunto contava com um criativo e eficiente sistema de ventilação. A projeção dos filmes era feita de amplas salas numa sobreloja por cima da entrada, contando com técnica moderna, em 70 milímetros.
Profecia
A estréia do Cine Marliani foi um dia de festa para os aracruzenses apaixonados pela Sétima Arte. Jovino recebeu muitos cumprimentos, ma só de amigos e admiradores, porque a omissão das autoridades foi total, como se a estréia do imponente cinema nada significasse para Aracruz.
Isto talvez se explique pelo fato de que Jovino fez questão de que não houvesse festas nem pompas e sim a grande humildade que sempre caracterizou tanto o próprio dono do cinema quanto “as pessoas que estavam com ele desde a igrejinha”, como Jovino carinhosamente fazia questão de se referir aos freqüentadores de seus cinemas.
Jovino organizou um sistema de entrada e saída das pessoas por caminhos diferentes, para que pudessem ver todas as instalações. Ao imaginar o duplo prazer que seria poder assistir a filmes com tanto conforto e modernidade, os velhos clientes do Cine Mara em geral não escondiam a emoção e emitiam as mais entusiasmadas opiniões, em geral comparando o novo Marliani aos melhores cinemas do Estado!
Mas, sem dúvida, uma das opiniões – “Meu Deus, Aracruz não merece este cinema!!!” -, dada por um admirado Édio José Filho de Oliveira, mais conhecido como “Genoveva”, caiu como uma profecia: menos de 10 anos depois, em 4/11/85, a tela do Marliani se apagou para sempre, logo após a exibição de “A Dama de Vermelho”. No dia seguinte, o prédio começou a ser adaptado para abrigar o Banco Itaú, que ainda lá funciona.
O Cine Marliani teve dias de glória, mas com o tempo, foi conhecendo a decadência, devido à baixa frequência, principal fator para o fechamento, segundo Jovino. Ele explica que “cansou de lutar sozinho”, pois contava apenas com o apoio da família e, às vezes, a própria filha dele é quem tinha que atuar como operadora das máquinas.
Jovino sempre achou “muito estranha”, não conseguia entender a ausência do público do moderno Cine Marlian, pois entendia que tinha eliminado praticamente todos os problemas que o Mara apresentava, chegando a exibir lançamentos ao mesmo tempo que os cinemas de Vitória.
À parte a influência do videocassete, em plena explosão nesta época, quem sabe se o que afastou o público não foi exatamente o que ele pensou que o atrairia? Ou seja: a modernidade do Marliani o estilizou, tornou-o impessoal, distanciado do público, matando aquela intimidade gostosa que surgia naturalmente das folclóricas improvisações atípicas da saudosa saga do Leila, do Esperança e, principalmente, do Mara...
Fonte: Faça-se Aracruz! (Subsídios para estudos sobre o município),1997
Organizador: Maurilen de Paulo Cruz
Fonte de Pesquisa: Casa da Memória de Vila Velha
Walter de Aguiar Filho, janeiro/2012
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