Diretrizes republicanas e Governo Afonso Cláudio
O esforço da gente capixaba, no período republicano, não se desviou da diretriz secular de sua história. Sobrepairando às vicissitudes políticas e ao trabalho contínuo em busca do aprimoramento das condições ambientes, uma constante presidiu aos atos dos governos espírito-santenses na primeira metade do século – a conquista do hinterland.
Curioso destacar que coincidiu, mais ou menos, com a passagem do quadricentenário do desembarque dos pioneiros a conquista definitiva do derradeiro trecho de território – nas margens do Rio Doce(1) – aos aimorés, que ali se haviam alojado como se fora o reduto final de uma luta de morte.
Conseqüências imediatas da penetração foram as picadas e ranchos, que se transformaram em rodovias e estradas de ferro e centros pujantes de progresso e civilização.
Circunstâncias várias favoreceram o excepcional desenvolvimento material e social do Estado. Entre elas, é justo salientar a ação exercida por uma elite saída dos próprios quadros locais e que, desde as primeiras horas do novo regime, assumiu o controle dos negócios públicos.(2)
Governo Afonso Cláudio
Homem ilustre, com um passado de lutas em sua terra natal, Afonso Cláudio não pôde realizar, no governo, todos os planos que, por certo, arquitetara o idealista da propaganda republicana. Ao receber, da Revolução vitoriosa, a nomeação de governador, faltava-lhe o indispensável aprendizado da administração. Era inexperiente na arte de governar. Encontrou o Tesouro depauperado. Para atender às despesas com o funcionalismo, teve logo de apelar para um empréstimo de noventa contos de réis,(3) concedido pelo ministro da Fazenda, conselheiro Rui Barbosa.
De outra parte, os recursos locais, exíguos, não permitiam a indispensável resistência aos embates provocados pela Revolução no setor-base da economia e das finanças.
Impossível não considerar os obstáculos de toda ordem, movidos e alimentados pelos políticos remanescentes dos antigos partidos do Império, que, reforçados por elementos republicanos dissidentes, tão fortes se tornaram que conseguiram levar à vitória o nome do barão de Monjardim, nas eleições para a presidência do Estado, realizadas pelo Congresso a seis de junho de 1891.
Note-se, porém – e é de justiça ressaltar – que, nos demais Estados, e mesmo no governo federal, não conseguiram os homens que inauguraram o regime erguer qualquer coisa que fizesse seus nomes lembrados como administradores.
Todas as atenções estavam acaparadas pelos absorventes problemas políticos, de um extremo a outro – desde a escolha de simples subdelegado de policia à elaboração da Carta Magna.
Foi em clima assim incompatível com os propósitos de administração – no sentido comum da palavra – que Afonso Cláudio governou o Espírito Santo, até o dia nove de setembro de 1890, quando, por motivo de saúde, passou o cargo ao terceiro vice-presidente, Constante Gomes Sodré. A este coube promover a primeira qualificação eleitoral republicana e a eleição dos representantes do Estado à Constituinte Federal e decretar a Constituição provisória estadual – a vinte de junho de 1891(4) – que vigorou até a promulgação da elaborada pelo Congresso.
NOTAS
(1) - O prof. Ceciliano Abel de Almeida publicou depoimento pessoal sobre o desbravamento do vale do rio Doce – de que participou como engenheiro na construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas. O Desbravamento das Selvas do Rio Doce figura na lista, muito restrita, das obras básicas para o conhecimento do hinterland brasileiro.
(2) - Páginas atrás assinalamos o prejuízo que as freqüentes mudanças de presidentes acarretavam ao Espírito Santo, durante o Império. O VISCONDE DO URUGUAI já lamentara o fato: “As nossas freqüentes mudanças de Ministérios, as eleições trazem freqüentes mudanças de Presidentes nas Províncias. São considerados pelos Ministérios como agentes políticos e chefes de eleições, não como administradores. Os Ministérios duram pouco; pouco duram os Presidentes de Província também” (Estudos Práticos, p. VII).
– A eleição dos mandatários locais para um razoável período de governo – instituída pela República – veio sanar aquele inconveniente e permitir que a administração fosse, em regra, exercida pelos próprios filhos da terra, melhor credenciados para conhecer seus problemas e desenvolver um programa de governo.
(3) - Informa Adelfo Poli Monjardim – em apontamentos generosamente fornecidos ao autor – que o empréstimo concedido fora de 60:000$000, resgatado no governo Muniz Freire.
(4) - O projeto de Constituição foi elaborado pela seguinte comissão, nomeada pelo governador do Estado: Muniz Freire, Horta de Araújo, José Horácio, Barcímio Barreto e Manoel Augusto da Silveira (informação devida a Adelfo Monjardim).
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, setembro/2017
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