O Início da navegação no Rio Doce
D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, Senhor de Pancas e Coutins em Portugal, foi Ministro da Marinha e Negócios Ultramarinos do Reino no período de 1796 a 1801. Nessa época, na Europa, começava a brilhar a estrela de Napoleão Bonaparte e o Ministro “viu com olhos de lince o fracasso de Portugal” perante o corso e “preferiu renunciar o cargo”. Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em fins de 1807, veio também. No Brasil, ocupou a “pasta da Guerra, imprimindo surto renovador ao exército. Seu raro tino administrativo orientou nossas necessidades militares”, de tal maneira que em muito cresceu o conceito do exército colonial. “Ao seu descortino político, muito deve o Brasil e principalmente o nosso rio Doce, para quem olhou com especial carinho, mesmo antes de aqui chegar”. No ano de 1800, tomou posse como Governador da Capitania do Espírito Santo o senhor Antonio Pires da Silva Pontes. Amigo e protegido do Conde de Linhares, vinha, sob sua recomendação, com o firme propósito de abrir um caminho fluvial pelo rio Doce até Minas Gerais, iniciar a povoação de suas margens e criar destacamentos militares para proteger estas finalidades. O Corpo de Pedestres, com 300 soldados, foi criado ainda em 1800, e neste ano o Governador subiu pessoalmente o rio, fazendo um estudo, da foz à cachoeira das Escadinhas.
Estabeleceram-se então quartéis militares: a) na barra do rio, o de Regência Augusta, em homenagem a D. João, Príncipe Regente, mais tarde D. João VI; b) mais acima, à margem esquerda do rio, numa barranca em forma de meia lua, onde outrora os índios botocudos abriram uma clareira para dançarem e celebrarem suas festas, fundou um quartel ao qual deu o nome de Coutins; e ainda a Pancas e Porto do Souza, sendo estes três últimos nomeados em homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho; d) fundou também outros dois: Lorena e Anádia.
Continuando seus esforços para incentivar a navegação, Silva Pontes publicou decreto pelo qual isentava de impostos as mercadorias que passassem pelo rio Doce. Parece, porém, que não cumpriu o decreto, uma vez que agentes de cobrança apareceram logo depois; mas não conseguiram grande resultado pois contraíram febres e morreram.
Além disso, o comércio sonhado por aquele Governador, e que muito poderia ajudar o desenvolvimento da região, não teve o sucesso esperado. Motivos variados são expostos por muitos escritores. Embora o rio fosse considerado oficialmente propício à navegação, usando-se “embarcações de fundo chato”, na prática, isso só era possível até a cachoeira das Escadinhas, a partir de onde teria que se faze rum longo percurso por terra até se poder usar o rio novamente. No Porto do Souza, atual Mascarenhas, não havia um estabelecimento comercial muito bem provido onde os moradores de Minas e Espírito Santo pudessem permutar produtos. E depois, a saída ou entrada pela foz do rio Doce era considerada perigosa, devido ao movimento constante das areias do fundo fluvial, mudando de lugar o canal que levaria as embarcações até o mar. No mais, o ataque constante dos botocudos espantava os menos afoitos e arrefecia o entusiasmo dos mais aventureiros.
Assim, em 1808, grupos de índios botocudos atacaram o Porto de Souza e, depois, arrasaram o quartel de Coutins, cujos soldados haviam subido o rio para acudir os primeiros. Estes ataques, somados a outros anteriores, determinaram o despacho de uma Carta Régia estabelecendo severas medidas contra os índios e a militarização de toda a Capitania para uma ativa perseguição aos “selvagens”.
Nessa época era Governador Geral Manoel Vieira de Albuquerque Tovar que, em 1809, recebeu ordens de realizar a militarização, reabrir a navegação no rio Doce e fazer correções na carta geográfica que Silva Pontes fizera. Tomando a si, pessoalmente, a execução dessas ordens, subiu Tovar o rio, “não hesitando em expor-se aos perigos desta incômoda viagem”, como já havia feito seu antecessor.
Então, em 1809, sobre os escombros do antigo Quartel Coutins, fundou Tovar uma povoação a que deu o nome de LINHARES, em homenagem novamente a D. Rodrigo de Souza Coutinho, que, nessa época, fora agraciado com o título de Conde de Linhares.
Tovar escreveu depois uma pequena exposição sobre sua viagem. Com otimismo, achou que a navegação no rio Doce era muito boa e sugeriu que na cachoeira das Escadinhas se fizesse uma espécie de “baldeação” das mercadorias. As que subissem o rio seriam ali permutadas, e depois, abrindo-se uma estrada margeando o rio até o Porto de Natividade – Aimorés atual - as mercadorias seriam conduzidas por bestas ou carroças até o interior das terras mineiras, voltando mais tarde pelo mesmo percurso. Seria assim incentivado sobremaneira um comércio, dizia ele, que traria imensos benefícios à agricultura das duas capitanias, aumentaria a população e poderia contribuir para uma rápida “civilização” dos índios.
Estas medidas, porém, demandavam em despesas que nem os cofres da capitania do Espírito Santo estavam sem condições de suprir e com que nem o governo da Metrópole resolvia arcar. Deste modo, nada se fez no seu governo, no sentido de tais empreendimentos; a navegação no rio Doce continuou – como se poderá constatar no desenvolvimento deste trabalho – a ser um problema sem solução por muitos e muitos anos, e os destacamentos militares, colocados ao longo do rio, mantiveram-se precariamente, não conseguindo, de fato, uma convivência ideal com os indígenas.
Fonte: Panorama Histórico de Linhares, 1982
Autora: Maria Lúcia Grossi Zunti
Compilaçâo: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2012
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
Ver ArtigoA obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro
Ver ArtigoPara prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda
Ver ArtigoNo final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações
Ver ArtigoO nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto...
Ver Artigo