Renato José Costa Pacheco - Ao assumir a Presidência do IHGES (1991-1993)

Ingressei, como sócio efetivo, nesta Casa do Espírito Santo, no dia 11 de abril em 1953. Aqui cheguei pelas mãos amigas de Guilherme Santos Neves, Euripides Queiroz do Valle e Ceciliano Abel de Almeida. Nestes quase quarenta nos, tenho, modestamente, servido ao Instituto, com o máximo de minhas pequeninas forças.
Rilke, em suas Cartas a um jovem poeta defendeu a tese de que "nada nos pode acontecer, que não nos pertença intrinsecamente". Considero-me, assim, inteiramente pertencente a esta Associação, que, por via de conseqüência, é muito minha também.
Teve o Instituto, nestes setenta e cinco anos de atividades que hoje comemora festivamente, apenas 11 presidentes-: Antônio Athayde, o primeiro ecólogo capixaba, os irmãos Arquimimo e Arnulpho Mattos, os Desembargadores Carlos Xavier Paes Barreto e Cassiano Castello, o Dr. Artur de Araújo Primo, os Desembargadores Celso Calmon Nogueira da Gama e Euripides Queiroz do Valle, e os Drs. Ceciliano Abel de Almeida, Christiano Ferreira Fraga e Alberto Stange Júnior. Acompanhei, mais de perto, o trabalho dos quatro últimos Presidentes, mas a todos os anteriores, seus companheiros de Diretoria e a legião de sócios que se foram rendo minhas efusivas homenagens. Fui Secretário Adjunto, Secretário Geral e depois Vice-Presidente. Participei de edição de várias Revistas, de livros, da organização de Cursos, Congressos e Concursos, e procuro ser assíduo às reuniões da Casa.
Com o Dr. Alberto Stange Júnior unido, por laços fraternais de amizade nos últimos quarenta anos, desde que ingressei no Corpo Docente do Colégio Americano de Vitória, do qual foi ele o grande e inesquecível Diretor, trabalhei mais intimamente, mercê da grande confiança que nosso Presidente de Honra sempre em mim depositou. Houvesse esta categoria estatutária, diria que o Dr. Alberto Stange Júnior é nosso Presidente vitalício, nosso Guia, nosso Modelo.
Em nosso Instituto, criado em honra do herói capixaba, Domingos José Martins, o passado se torna experiência viva, atuante e presente, em que todas as forças sociais se movimentam dentro de uma dada realidade, e procuramos percebê-las, clara e racionalmente. O Instituto tem o propósito de levar o conhecimento acumulado, que é patrimônio comum da condição humana, a todos os que nos procuram, aqueles que, como dizia Victor Hugo, "são cegos, porém são infelizes em sua cegueira".
Prezados consócios e amigos-:
Riobaldo, a imortal personagem de Grande Sertão: Veredas asseverou que "todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas". A solução para ele estava na reza e na religião.
A meu pensar, o texto literário tem fundamentação antropológica...
Entendo que saindo da natureza - berço inicial dado - e desejando substituir quem o criara criando o aparato cultural (que é uma segunda natureza para facilitar a perpetuação da espécie) o homem cometeu o seu pecado original, o homem se tornou a-natural, e assim como as células se uniram para formar seres complexos, a solução para esta geral loucura é o associativismo, inclusive como pensava Riobaldo/Rosa o religioso, a solidariedade grupal, o um por todos e todos por um, que permita a formação de super-seres, que, trabalhando em conjunto, vencendo as etapas da vida em equipe, numa tempestade cerebral coletiva nos permita muito mais longe chegar.
Minhas senhoras e meus senhores-:
Muita gente pensa que o Instituto é um reduto hermético de cientistas sociais. Ledo engano. Sempre entendi o Instituto como uma associação de pessoas boas (como os Vereadores coloniais) que amam o Espírito Santo, o que se comprova através da leitura do Artigo 1° de seus Estatutos e dos 40 números de sua Revista, a mais antiga publicação cultural do Estado.
Não bastasse isto, lembremo-nos do célebre discurso do Reitor da Universidade de Berlim, do Grande Theodor Mommsen, no longínquo ano de 1874-:
“Todos vocês, senhores, todo homem pensante é um pesquisador de fontes, é um historiador prático. Vocês têm de ser ambos, para entender os acontecimentos que ocorrem diante de seus olhos. Todo homem de negócios que maneje uma transação complicada, todo advogado que estuda um caso, é um pesquisador de fontes e um historiados prático".
Isto é o que pretendemos ser - geógrafos, historiadores cientistas sociais práticos que tentamos compreender o mundo em que vivemos, e, em especial, nossa gente, nossa terra.
Sabemos que não é possível o desenvolvimento total e harmonioso de um povo sem o estudo aprofundado das paisagens criadas pelo homem e sem um liame fortíssimo como o passado que esquecido não pode ser, nem negado-: deve ser compreendido.
Geografia e história, humanidades e ciências sociais devem dar as mãos, objetivando oferecer ao cidadão médio a compreensão do mundo em que vivemos.
O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo sempre procurou oferecer ao homem comum de nosso Estado atividades culturais que lhe possibilitem aparelhar-se, intelectualmente, e conseguintemente, lhe permitam pensar com sua própria cabeça.
Infensos aos extremismos, seus membros mantiveram sempre uma postura equilibrada e eclética, mercê do amálgama feliz de múltiplas tendências que entre eles se encontram.
Além de cumprir suas atividades estatutárias rotineiras e incrementar sua associação com a Academia de Letras e Artes de Cascais, Portugal, cujos primeiros sócios nossos tomarão posse lá no próximo mês de setembro, pretende o Instituto, num futuro próximo, até o início do próximo século, desenvolver grandes projetos centralizadores de suas atividades, nestes NOVOS TEMPOS de que falava o saudoso Almeida Cousin a nosso Presidente Stange Júnior.
Além disto, pretende realizar, bienalmente, e já agora convocadas para 1992, 1994, 1996, 1998, 2000, jornadas internacionais sobre navegações, celebração da grande epopéia da conquista dos mares, e ares, desde os quinhentos anos da descoberta da América ao quinto centenário do descobrimento do Brasil, que, este ano, terão sessão prévia coordenada por nosso consócio Miguel Depes Tallon.
Meus amigos, minhas amigas, minhas irmãs, meus irmãos-:
Creiam-me não estou vendo miragens, pretendo chegar a um oásis.
Nesta Presidência quero ter ouvidos (já um pouco surdos a esta altura da vida) para ouvir todas as vozes, e sobretudo para os silêncios dos humildes, dos inibidos, dos que se calam, e até se omitem.
Não desejamos grandes dádivas de poucos.
Queremos as pequenas contribuições de muitos, comos quais procuraremos cumprir, digna e honradamente, nossa missão.
Não abrimos mão de nenhuma ajuda. Continuaremos contando com a comparação prestimosa, querendo Deus, dos dedicados servidores de nossa Universidade Federal do Espírito Santo, de nossos sócios, de nossos diretores, dos estudantes de nossa terra, do povo em geral.
Nesta caminhada, precisamos da ajuda de muitos, do auxílio mínimo que seja, de todos. Agradeço a presença de todos Agradeço a presença de todos e a celebração que tem sido sempre dada a nosso Instituto.
Procuraremos reverter tudo, sempre, em benefício de nossa boa gente capixaba. Muito obrigado!
Está encerrada a sessão.
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do ES. – N° 41
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2014
Nota: Discurso pronunciado na solene sessão de posse, a 12-06-1991
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